sábado, 23 de abril de 2011

FÁBULA: OS ANIMAIS E A PESTE DE MONTEIRO LOBATO

                                                               Os Animais e a Peste



Em certo ano terrível de peste entre os animais, o leão, mais apreensivo, consultou um macaco de barbas brancas. 


- Esta peste é um castigo do céu - respondeu o macaco - e o remédio é aplacarmos a cólera divina sacrificando aos deuses um de nós. 



- Qual? - perguntou o leão. 



- O mais carregado de crimes. 



O leão fechou os olhos, concentrou-se e, depois duma pausa, disse aos súditos reunidos em redor: 



- Amigos! É fora de dúvida que quem deve sacrificar-se sou eu. Cometi grandes crimes, matei centenas de veados, devorei inúmeras ovelhas e até vários pastores. Ofereço-me, pois, para o acrifício necessário ao bem comum. 



A raposa adiantou-se e disse: 



- Acho conveniente ouvir a confissão das outras feras. Porque, para mim, nada do que Vossa Majestade alegou constitui crime. São coisas que até que honram o nosso virtuosíssimo rei Leão. 



Grandes aplausos abafaram as últimas palavras da bajuladora e o leão foi posto de lado como impróprio para o sacrifício.



Apresentou-se em seguida o tigre e repete-se a cena. Acusa-se de mil crimes, mas a raposa mostra que também ele era um anjo de inocência. 



E o mesmo aconteceu com todas as outras feras. 



Nisto chega a vez do burro. Adianta-se o pobre animal e diz: 



- A consciência só me acusa de haver comido uma folha de couve da horta do senhor vigário. 



Os animais entreolharam-se. Era muito sério aquilo. A raposa toma a palavra: 



- Eis amigos, o grande criminoso! Tão horrível o que ele nos conta, que é inútil prosseguirmos na investigação. A vítima a sacrificar-se aos deuses não pode ser outra porque não pode haver crime maior do que furtar a sacratíssima couve do senhor vigário. 



Toda a bicharada concordou e o triste burro foi unanimamente eleito para o sacrifício. 

Moral da Estória: Aos poderosos, tudo se desculpa... Aos miseráveis, nada se perdoa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário